
Ao aperceber-se de que o marido nunca mais chega a casa, a irmã de Olga adormece no sofá. De manhã, ao regressar, o ex-militar vê a mulher a dormir e senta-se no chão, esperando que ela acorde. De repente, toca o despertador e ela levanta-se, sobressaltada, não acreditando que tem o marido a seu lado. “Tu sabes o que eu sofri? As coisas que pensei? O esforço que fiz para os miúdos não ficarem preocupados?”, diz-lhe, aos gritos. Ele abraça-a, de olhos marejados, e pede-lhe que falem. “O que é que ela tem que eu não tenho? Diz lá, é só isso que eu preciso de saber”, diz ela. O marido abana-a e pede-lhe que pare com aquela cena, mas ela não consegue: “Não me deixes, por favor. Se é isso que vais dizer, não quero ouvir…”. Determinado, o publicitário anuncia: “Não posso continuar a viver esta mentira. És uma mulher fantástica. Gosto muito de ti”. Mas Maria agarra-o, tresloucada. “Fica comigo. Esquece-a. Esquece tudo. Vamos fazer um filho, vamos ser felizes outra vez”, suplica. Mas Zé Luís garante que isso não é possível e explica porquê: “Sinto atração por homens. Hoje em dia, praticamente só me sinto atraído por homens”. A dona de casa pensa ter ouvido mal, só que o companheiro confirma: “Tenho-me encontrado com outra pessoa, tens razão. Mas é um homem, Maria. Sou homossexual”. Em choque, Maria puxa-o e agride-o com violência.

“Não quero ouvir!”
Instantes depois, mais calmo, o genro de Ana explica-se: “Tens de olhar para mim, temos de falar, resolver coisas… Nasci assim”. “Não! Eu casei com um homem como deve ser, um militar, uma pessoa com valores”, grita Maria. O marido confirma e acrescenta: “Sou tudo isso e também sou gay”. “E os nossos filhos? Fizeste-os comigo! Não aceito, tu não podes ser maricas, isso é uma desculpa esfarrapada para acabar com o nosso casamento. Diz–me quem ela é”, grita a irmã de Natália, mas Zé Luís insiste: “Não há outra mulher. Nunca houve. Ocasionalmente, encontrei-me com homens.Gostei muito de um, há muitos anos, e gosto de outro, agora”. A mulher solta-se e leva as mãos à cabeça: “Não, não estou a ouvir, nãovou ouvir, não quero saber! Pára, pára, pára!”. E a bomba ainda está a estoirar: “Háfotografias minhas comessa pessoa, os dois a fazer amor… vão aparecer”. Nesse instante, a filha de Sérgio pára de gritar e pergunta ao marido porque lhe está a contar aquilo. “Fui chantageado. O embaixador Molina vasculhou a vida das pessoas mais próximas do Matias e, claro, descobriu-me. Ia cedendo, ainda quis convencer o Matias a mentir no depoimento, a desistir”, justifica ele. “Se gostasses da tua família era o que tinhas feito”, aponta a dona de casa. Contudo, o marido está certo de que tomou a decisão correta: “Foi por causa dos nossos filhos que não o fiz. Têm o direito de saber quem o pai deles é”. Maria não contém a indignação: “O pai deles é meu marido há 17 anos, é capitão de mar e guerra… não há pessoas dessas na Marinha”, grita, descontrolada.
Obrigado a calar-se
Depois da discussão, Maria e Zé Luís tomam o pequeno-almoço com os filhos, com o publicitário a dizer ter um anúncio a fazer. “Isto tudo é porque se vão separar?”, pergunta Francisco. “Também. E outra coisa a meu respeito que prefiro que saibam por mim”, afirma o pai. A mulher impede-o de falar: “O pai, para meu desgosto, é daqueles homens que chegam aos 40 anos e perdem a cabeça com outras mulheres. Já pediu desculpa e agora vai ficar tudo bem”. Ele fica em choque. “Os casamentos são assim, têm momentos, este foi difícil mas, juntos, vamos ultrapassá-lo. Já estamos a ultrapassar”, continua Maria. A campainha toca e Zé Luís chama-a à razão, mas ela rejeita-o: “A conversa acabou e prosseguimos as nossas vidas. Francisco, vai abrir a porta”. Constança aguarda a reação dos pais e o ex-militar diz: “Já expliquei que não consigo estancar a conversa aqui… aquilo que te contei das fotografias…”. “Acabou, Zé Luís. Respeita a tua filha”, frisa a dona de casa. O filho aparece com um embrulho. “Pai, era um senhor… Diz que está aí tudo num cartão de memória. Não há mais nada… e para não te esqueceres de agradecer ao Matias.”