É já a partir de dezembro que vamos poder ver Margarida Vila-Nova, 37 anos, de volta à SIC, desta vez naquela que promete ser uma polémica série da plataforma de streaming OPTO. Em “O Clube”, produção com a qual não contava e que a deixou entusiasmada desde o primeiro minuto, a atriz interpreta Vera, a gerente do clube de luxo onde tudo se passa, uma mulher fria e calculista que domina a noite lisboeta com pulso firme.
Como tem sido este regresso numa aposta diferente do canal?
Confesso que recebi com muito entusiasmo este convite da Patrícia Sequeira [realizadora], com quem me estreei em televisão e com a qual tenho feito diversos trabalhos ao longo da minha vida. É alguém por quem tenho uma profunda amizade e admiração. E, sobretudo, por ser um desafio numa nova plataforma de comunicar e da ficção se apresentar. A mim, interessa-me fazer parte de novos desafios.
É também uma forma de chegar a outros públicos…
É, sem dúvida, uma nova forma de chegar a outros públicos, são outros formatos. Este trata-se de uma série de 15 episódios, com uma outra linguagem e novos horizontes.
Diversificar o seu trabalho era algo que desejava?
Sim e sempre o procurei fazer. Hoje em dia, e como o mercado se tem expressado nos últimos anos, quanto mais canais, quanto mais plataformas, quanto mais diversificada for a oferta, mais interessante se pode tornar o nosso percurso, porque permite-nos fazer produções de curta e média duração, saltar mais facilmente de trabalho em trabalho e com isso desempenhar mais personagens, ter novos guiões, produtoras, realizadores. É uma porta para novas oportunidades.
Aqui está o trailer de “O Clube” (e as imagens são fortes!)
As primeiras imagens desta que promete ser a série mais escaldante de sempre!
Como está a ser fazer “O Clube”?
Para mim, está a ser um desafio interessante e acho que, no seguimento desta série, outras produções poderão surgir na OPTO ou noutras plataformas.
E quem é esta personagem, a dona do clube onde tudo se passa?
A minha personagem é a Vera, a filha do dono do clube. Tem cerca de 30 anos e cresceu neste universo, neste mundo. Conhece bem a noite, o que a rodeia, os códigos, os comportamentos. É uma verdadeira empresária da noite. Ela não faz julgamentos sobre o negócio em si, sobre o alterne que acontece neste bar. É uma sobrevivente a lutar pelo seu negócio. Vivem-se tempos difíceis e a Vera, até por ser de uma geração diferente do pai, pretende modernidade, tornar mais apelativo o negócio. E depois é uma mulher muito solitária, muito sozinha, mas, sobretudo, é uma mulher de armas, que conhece a noite. Os tráficos humano e de drogas, a prostituição e os negócios clandestinos sempre fizeram parte da sua vida e ela trata-os com muita frieza. Nunca interpretei nada próximo desta Vera, pela forma como ela se comporta, como ela anda, como ela gere. Há um lado frio e prático que nunca tinha desempenhado em televisão.
Para a Vera não há conceito moral, há um negócio?
É isso mesmo! Fui em busca de saber como é ser uma mulher da noite num universo de homens, em que são eles que, normalmente, gerem. Na nossa história, as mulheres têm um papel determinante. A Vera está “tu cá tu lá” com qualquer cliente, qualquer empresário. Não se intimida por ser mulher. Em ficção, temos sempre liberdade de escrevermos. Também é uma porteira que está à entrada e não um porteiro, por exemplo. Existe também a Martine, personagem de Ana Cristina Oliveira, que é responsável por um grupo de mulheres acompanhantes de luxo, e as próprias mulheres e a forma como gerem os seus clientes. As personagens femininas têm um papel muito forte e determinante nesta série.
A série tem um forte elenco, que conta ainda com a atriz brasileira Luana Piovani, além de atores mais novos. Como está a ser esta mescla de profissionais?
Está a ser um casamento muito feliz. Sobretudo, está a ser um grande desafio, um trabalho excelente. Há um grande cuidado, é bonito, sofisticado. Qualquer um de nós, técnicos ou atores, estamos muito envolvidos e empenhados em que seja algo diferente, ambicioso. Queremos que a verdade, a honestidade e a crueldade sejam tratadas de forma real e honesta. Somos um elenco pequeno e que funciona muito bem. Criámos laços fortes. Quer o Vítor Norte, quer o José Raposo são de uma grande generosidade e experiência. São incansáveis.
Dizia que nunca fez uma personagem tão fria. Como a construiu?
Há um lado moral, o que pensamos e o que defendemos, que tem de ficar lado. Fica apenas a personagem à minha frente. Foi um trabalho de busca um bocadinho solitário… E fiz pesquisa na Internet, passei horas a ver mulheres a falarem…
Foi a esse tipo de bares?
Sim! E tivemos acesso a entrevistas que foram feitas no âmbito da investigação para a série que depois foram partilhadas. Não deixa de ser um assunto transversal. Todos nós, melhor ou pior, conhecemos algumas histórias e o facto de falarmos delas é ter uma voz sobre uma realidade que existe. Não é por não falarmos que elas deixam de existir. É um assunto que não está apagado, pelo contrário. Estas séries permitem lançar a discussão sobre várias temáticas, quer seja tráfico humano, quer seja droga, prostituição. Qualquer um destes temas é inquietante e desperta curiosidade.
Considera-se feminista. Para si, é importante ver estes temas retratados?
É com certeza! É preciso falarmos das realidades que existem e que devemos debater.