
Um reality show é sinónimo de polémicas, e isso não é novidade. E o “Big Brother” tem sido recheado de momentos que, por um lado, são difíceis de acreditar que são verdade, mas por outro escancaram a necessidade de se debater com mais frequência alguns temas. A “brincadeira” de Hélder com Ana Catharina é um deles.
Na última terça-feira, dia 21 de julho, o tema foi abordado numa longa conversa entre todos os concorrentes, e algumas pérolas saíram da boca daquele que é o grande protagonista da história. Hélder estava inconformado com o facto de Ana Catharina deixar Diogo tocar-lhe depois de ter reagido tão mal ao toque em questão. Nota: Diogo e Ana Catharina estão a viver uma espécie de romance dentro da casa. Em certo momento Hélder chegou mesmo a dizer que “90% das pessoas adoram o meu toque”, o que deve ser resultado de uma pesquisa científica muito sólida.
A resposta (muito bem explicada) de Ana Catharina às dúvidas de Hélder pode ver no vídeo.
Por que Daniel Monteiro não sabe – nem nunca vai saber – o que é rir de nervoso
Mas o que preocupa aqui é a quantidade de outros concorrentes que saíram em defesa do amigo. Daniel Monteiro, por exemplo, lembrou que Ana Catharina riu-se quando Hélder tocou-lhe. “Ri de nervoso e depois eu disse ‘para!'”, justificou a concorrente brasileira, que logo foi respondida pelo bombeiro: “Eu se tiver nervoso não me rio“.
Mas é justificado que Daniel Monteiro não saiba o que é rir de nervoso. O concorrente provavelmente nunca teve de ouvir comentários ou piadas misóginas, que diminuem ou sexualizam a mulher, tal como aquelas que o amigo Hélder gosta de fazer. E, portanto, não teve de “rir de nervoso” para não ser mal interpretado como o “sem humor”, ou o “que tem a mania”. Daniel Monteiro também não teve de rir de nervoso quando outro homem agarrou nos seus ombros sem motivo e abanou-o, porque provavelmente isso nunca lhe aconteceu – e se aconteceu, Daniel Monteiro fez a cara de nervoso que costuma fazer para afastar e amedrontar os outros, ou teve a capacidade física para se defender.
Por que as desculpas de Hélder não valem
É que num mundo em que dizem que “tudo está chato demais”, uma mulher que se defende de uma abordagem agressiva é considerada alguém com “mau feitio”. Não importa a intenção de Hélder no momento em que toca Ana Catharina – depois de 2 segundos a rir-se de nervoso, a concorrente afirmou várias vezes que não queria ser encostada pelo colega. A resposta do homem – que estava de pé e que tinha as duas mãos nos ombros da mulher, que estava sentada – foi: “tens medo do poder?”.
Hélder só pediu desculpas depois de um longo discurso de 3 minutos a dizer que Ana Catharina o achava “giro”. Ah, e depois de Angélica, que estava ao lado de Hélder, incentivá-lo a fazê-lo. Mas Iury lembra-se “perfeitamente” que esta foi a primeira coisa que Hélder fez. Porque o Hélder “é assim”, “brinca com todo mundo”. Hélder não quis realmente pedir desculpas, e continua a não o querer fazer, porque agora afirma que gostaria que Ana Catharina reconhecesse que (dito em sotaque brasileiro): “Sou um bom cavalheiro e eu queria que tu disseste: (…) ‘realmente você quando me tocou eu pensei que ia me bater, não bateu”.
Uma pessoa machista não é necessariamente uma pessoa má. É possível ter bom coração, brincar com todo mundo e ter amigos e, ainda assim, ser machista. Hélder não tem que esperar que Ana Catharina perceba as suas intenções. Hélder precisa é rever as suas próprias atitudes. Não são os homens quem têm de nos dizer se o toque é ou não errado e se a reação é ou não desproporcional. Porque não são eles que estão sentados no sofá com as duas mãos de outra pessoa nos seus ombros.