Alguns elementos secundários e identificativos permitiram a celeridade da conclusão, designadamente uma tatuagem detectada num dos membros. A confirmação do processo de identificação do corpo só virá com os resultados dos testes de ADN, que serão conhecidos dentro de dias. Nas partes do corpo de Sandra Andrade encontrado na mala, não foram detectados sinais evidentes de disparos ou outras agressões.
O cheiro “estranho, nauseabundo e muito intenso”
Um forte e estranho cheiro chamou a atenção de um homem, que, na segunda-feira, dia 8 de Agosto, andava na apanha de alfarroba, num terreno agrícola isolado, em São Lourenço, freguesia de Almancil, Loulé. No meio de um muro, escondida com pedras, estava uma mala de viagem de onde saía o cheiro de um cadáver desmembrado, descoberto no seu interior. O cadáver estava em avançado estado de decomposição. Visível nas fotografias publicadas é, claramente, um crânio com a dentição completa e um fémur, o osso mais longo e mais volumoso do corpo humano, cabelo e um membro mumificado, onde parece haver uma tatuagem.
Tatuagens
Sandra Andrade tinha diversas tatuagens no corpo, uma delas no braço esquerdo. De acordo com uma amiga, algumas das tatoos são homenagens a pessoas importantes da vida dela e que entretanto morreram, como o próprio pai e uma grande paixão, com quem não chegou a ter nada por ele ser casado.
A Tese da Família
Foi dada como desaparecida a 24 de Junho pela própria mãe, que comunicou à GNR de Loulé o desaparecimento da filha. Sabe-se que ela conduziu o último cliente cerca das 9 horas daquela manhã de sexta-feira à estação de comboios de Loulé. Este homem foi já ouvido pela PJ. A família sabe que Sandra terá recebido depois, um telefonema “a título pessoal, de um outro cliente”. Uma fonte próxima da família referiu ao programa “Linha Aberta com Hernâni Carvalho”, da SIC, acreditar que Sandra Andrade tenha sido “obrigada a fazer algo ou assistiu a algo que não devia, um transporte que não devia”.
Transporte de notas
Uma ex-colega afiança que Sandra fazia transporte de dinheiro em notas para zonas diversas do Algarve. A PJ está na senda desses valores que poderão ajudar a descobrir o autor do homicídio. Por norma, em Portugal o dinheiro é transferido por operação bancária ou transportado em notas por empresas especializadas. Conhecer a origem desse dinheiro que Sandra terá transportado (ou não) poderá ajudar a investigação.
Focada no trabalho
90% do trabalho desenvolvido eram transferências para ingleses e holandeses, para quem terá feito diversas deslocações de Vilamoura a Madrid e a Sevilha, conta uma amiga. Um colega dos táxis descreveu-a como uma pessoa muito reservada, nada dada a convívio com os colegas e que nos tempos mortos ficava no carro a desenhar. Sabia cativar os clientes e por isso tinha uma carteira tão grande que, por vezes, passava serviços aos colegas para conseguir dar vazão às solicitações. Começou a trabalhar por conta própria há cerca de um mês. A sua empresa – Sólida Fantasia – terá sido adquirida a um ex-patrão (com quem se diz que terá namorado em tempos) com ajuda financeira dos irmãos, Ricardo e Hélder, um destes imigrado na Irlanda. Anteriormente, Sandra trabalhou como motorista de TVDE, foi taxista durante alguns anos e terminara há semanas um curso de guia turística.
Quem foi Sandra Andrade
Era mãe de uma filha 29 anos e avó, mas não tinha relações com as descendentes. O divórcio decorreu pacificamente há anos e ficou com boas relações com o ex-marido. Vivia sozinha com gatos e plantas. Trabalhou em Angola entre 2011 e 2015, em áreas tão diferentes como a indústria da madeira ou ecoturismo. De 2003 a 2006, trabalhou nas bombas da Cepsa, em Loulé (estes postos de combustível fecharam após um despedimento colectivo). Praticante de karaté desde finais dos anos 90, é descrita pelo seu mestre, Fernando Romão, como uma pessoa extremamente esforçada, disciplinada, metódica, com mentalidade de atleta e cuja modalidade representava uma parte muito importante na sua vida. Há sete anos que Sandra praticava diariamente esta modalidade. Nasceu a 21 de Abril de 1973. A sua morte é um mistério.
Cronologia
24 de Junho
Foi a mãe de Sandra quem comunicou à GNR de Loulé o desaparecimento da filha. Sabe-se que recebeu o último serviço por volta das 9 da manhã daquela sexta-feira. Deixou o cliente na estação de comboios de Loulé. E atendeu um telefonema, “a título pessoal”, de um cliente.
28 de Junho
O Opel Astra cinzento que conduzia aparece estacionado na Rua Diário de Notícias, em Quelfes, Olhão. Fechado, com as chaves na ignição, documentos de Sandra e um telemóvel. Foi encontrado por um amigo do irmão.
8 de Agosto
Uma mala com um corpo de mulher, esquartejada, é encontrada por um popular que andava na apanha de alfarroba. A mala estava encoberta pelas pedras de um muro velho, num terreno agrícola isolado, em São Lourenço, Almancil, Loulé.
11 de Agosto
A Judiciária confirma que os restos mortais encontrados em Almancil são de Sandra Andrade.
Trabalhos forenses
O estudo dos ossos pode contribuir para a identificação, estimativa de idade e diagnose sexual, bem como o estudo dos dentes ajudará na estimativa de idade e na identificação da vítima, coisa que a genética forense haverá de confirmar no estudo do ADN, cabelo e ossos. Isto, além de outros trabalhos da medicina legal na autópsia, altura em que ficará definida a causa de morte traumática. Os cortes do corpo podem identificar o tipo de instrumento usado e contribuir para o desenhar do perfil do agressor. Da decomposição do corpo sabe-se que é influenciada pela temperatura ambiente, pelo esquartejamento, e por estar dentro de uma mala. Os vestígios encontrados na mala ajudam na reconstituição do crime. A presença ou não de roupa ou outro tipo de objectos será importante para a investigação, inclusive o tamanho da mala – não é possível o corpo estar completo. O local do crime e pequenos detalhes deverão ser minuciosamente avaliados, incluindo a botânica para estudo da vegetação.
Cadáveres encontrados em malas
Anos 2000 Um desentendimento passional entre dois imigrantes brasileiros acabou em homicídio. Os dois homens terão discutido por ciúmes e chegado ao confronto físico. O homicida de 40 anos, esganou o namorado (20 anos) e meteu o corpo ainda quente numa mala de viagem, abandonando-o num canavial em Sapadores, Lisboa. Vinte seis dias depois, interrogado pela PJ, o homicida conduziu os inspectores ao canavial e à mala com o namorado no interior.
Década de 1990 Uma desavença entre dois homossexuais acabou com um deles a matar o outro. Depois, esquartejou o corpo e colocou os membros inferiores em duas malas, que abandonou junto da Fonte Luminosa, em Lisboa. O resto do corpo foi metido num contentor de lixo da Praça do Chile.
Década de 1980 Pedro Infante, acabado de sair da cadeia por ter assassinado a madrinha, enfermeira do Hospital Egas Moniz, em Lisboa, matou um antigo subchefe da PSP e a mulher (pais da namorada). Depois, meteu os corpos em duas malas de viagem, que escondeu na adega da casa do casal, em Braga.
Década de 1970 Um comerciante de Lisboa tentou violar uma rapariga que respondera a um anúncio. Matou-a no estabelecimento, no Areeiro, esquartejou-a e meteu o corpo em três malas, que enterrou em matas da margem sul do Tejo.
Por deslindar O caso de uma mala com restos de um corpo que, vinda de Espanha, em finais dos anos 80, chegou ao antigo terminal rodoviário, na Avenida Casal Ribeiro, em Lisboa.
