Estou aqui a olhar para os resultados de um estudo. São preocupantes. Cada vez menos jovens frequentam o Ensino Superior. Costumava ser um sinónimo de riqueza, a que quase todos concorriam. Ainda fui do tempo das angústias de não conseguirmos entrar para um curso, muitas vezes com médias bastante altas. Era uma corrida, e a oferta era nitidamente inferior à procura. Não interessa, para o caso, se hoje em dia ter um curso superior é sinónimo de “sucesso” na vida, seja isso o que for. Não vou embarcar na ideia redutora de que o sucesso se mede pelo dinheiro que ganhamos ou os cargos de poder que detemos. Mas uma coisa era certa: ter um curso superior dava grandes vantagens aos jovens no mercado de trabalho. Diz-se que a sociedade está mudar de tal maneira que, dentro de pouco tempo, deixarão de existir empregos que hoje consideramos fundamentais. Não sei, estas previsões costumam ser precipitadas. Acho que, em profissões altamente especializadas como a Medicina, Engenharia, ou mesmo o Direito, sem curso superior não dá mesmo. Outras, lamento dizê-lo, acabam por se fazer, com ou sem curso, valendo-se uma pessoa de talento, sorte e conhecimentos. O mercado de trabalho, sabemos todos, e os jovens vão percebendo desde cedo, está difícil. Difícil de entrar, para estágio, por exemplo, e mais difícil ficar. Estagiários de todas as áreas sentem na pele a volatilidade dessa etapa. São raros os que conseguem contrato longo. Os jovens tornaram-se a matéria mais descartável das empresas. Vão usando os que querem, em número, para logo os dispensar. E estes que se apresentam a estágios, repare-se, são os licenciados. Sim. Ter um curso superior foi perdendo eficácia, nas últimas décadas. Poderá isto explicar, em grande parte, que os jovens que vão crescendo agora sintam que nem se devem dar ao trabalho da dita educação superior? Porque vão sabendo, pelos que os antecedem, que a coisa está muito difícil, não justificará talvez o trabalho de tanto estudo? Eis-me chegado ao ponto fulcral da minha questão: a natureza humana, gostemos ou não. Porque ela nos leva a ver que, mais do que as dificuldades que enfrentam os estudiosos, a grande quantidade de iletrados que ganha bem, por vezes muito bem. Há inúmeros exemplos, mas hoje em dia destaco essa novíssima profissão que são os youtubers. Por nenhuma outra razão que não seja o absurdo de se ganharem milhares a dizer alarvidades. Estou a generalizar, obviamente, e haverá quem ganhe a vida no YouTube a divulgar coisas muitíssimo interessantes. Não é desses que falo agora. Falo dos outros, parece-me que a maioria, a mais “famosa”, mais notória, que aparece em sessões de autógrafos para criancinhas aos gritos. Os que (ao que sei) ganham milhares a gritar e a ensinar palavrões, que incluem aconselhar a criança a mandar a mãe àquela parte se ela o acordar muito cedo. Vejo muitos pais a desvalorizar, a falar de uma “fase” que depois passa. Não estou tão certo. Acho que esta fase está a moldar o futuro. E o que se antevê não é bonito.
Rodrigo Guedes de Carvalho: Cuidado com este futuro
"Ter um curso superior foi perdendo eficácia, numa altura em que se destaca uma novíssima profissão, os youtubers, que ganham milhares a dizer alarvidades"