Uma carta deixada à família pedindo desculpas, explicava o inexplicável. Naquela manhã, asfixiou o filho de 9 anos com uma peça de roupa, no interior da casa onde viviam na aldeia de Sortelhão, Guarda. A mulher tomou depois uma dose excessiva de comprimidos, mas foi assistida a tempo e sobreviveu.
Socorrida a tempo
Terça-feira 12 de Setembro, o alerta chegou cerca das 16.40h aos bombeiros. Quando chegaram à casa, encontraram uma mulher (47 anos) inconsciente, com sinais de intoxicação e uma criança em paragem cardiorespiratória. Os sinais do corpo do menino indicavam que a criança teria tentado resistir antes de morrer. Pouco depois, já no serviço de urgência do Hospital da Guarda, acordou e terá confessado os factos. “Tudo aponta que estejamos em presença de um homicídio seguido de uma tentativa de suicídio”, disse aos jornalistas José Monteiro, coordenador da Polícia Judiciária da Guarda. Ficou internada na unidade de psiquiatria daquele hospital e segundo os médicos, sem condições de ser interrogada pela PJ.
Depressão
A mulher é casada com um jardineiro do Hospital da Guarda e tem outro filho, de 27 anos, que ainda vivia com os pais. Os vizinhos referem que ela tem um longo historial de depressões e que terá deixado de tomar a medicação. Contam que ela passava muito tempo na cama e que seria o marido a providenciar as refeições e outros cuidados da casa. Ultimamente convenceu-se que aquele filho era vitima de bullying na escola, situação que os directores negam.
Homicídio?
A propósito de um dos casos de mulheres que mataram os filhos e de seguida tentaram o suicídio (não consumado), lê-se numa nota da Procuradoria-Geral Distrital do Porto que, em abstrato, são factos que podem integrar “a prática de infração criminal de natureza pública, nomeadamente o crime de homicídio qualificado, na forma tentada ou consumada”.
Doentes?
Provavelmente, diz o professor de psicologia forense Paulo Sargento. Os estados depressivos dão uma leitura distorcida da realidade. Adquirem uma percepção negativa de si próprias, dos outros e do mundo. Muitas das significações ganham uma força tal que se tornam no gatilho desse comportamento. Matar e morrer. Muitas vezes, isso simboliza a falência do amor. Os filhos são vistos como o produto de um amor. Como entendem que esse amor acabou, elas decidem que tudo deve acabar também. Noutros casos, matam os filhos por considerarem que mais ninguém os tratará tão bem quanto elas próprias. E outras há que deixam patente o seu sentimento de posse dos próprios filhos, enquanto propriedade, concluiu.
Comportamento padrão
Aquele professor universitário de psicologia explicou que observa traços comuns nas mulheres que tiram a vida aos filhos, e de seguida se suicidam, ou tentam. A idade dessas mulheres, a idade das vítimas (crianças pré-púberes), o estatuto social (médio), o conflito familiar/conjugal, a administração de psicofármacos e a provável perturbação psiquiátrica, bem como cartas, ou mensagens deixadas Facebook, de aviso ou explicação dos actos. “O que me sugere que na base da maioria desses actos, dramáticos, existem problemas de conflitualidade conjugal, de perturbação psiquiátrica (depressiva major ou bipolar) ou de personalidade (essencialmente estado-limite)”, concluiu o professor.