1 Acho um piadão à falsa modéstia. Ou melhor: não acho piadinha nenhuma, e é mesmo das características mais enervantes que uma pessoa pode ter. E no entanto, ou é de mim, ou são cada vez mais. Bem podem os psicólogos perorar longamente sobre a falta de auto-estima que afecta muitos portugueses. Vou assistindo ao espectáculo contrário. Anda para aí muita gente que se tem em extraordinária conta. Não vem daí mal ao mundo, mas seria menos irritante ver a coisa assumida de frente. Mas não. Na esmagadora maioria dos casos, as pessoas dizem maravilhas de si próprias fingindo uma lúcida e fria auto-crítica. Depois, é só esperar que os outros nos contradigam, afirmando-nos que somos o máximo, que não deveríamos ser tão duros connosco, e que aquilo a que chamamos defeitos são afinal virtudes que tomara que toda a gente tivesse. Pede-me um exemplo? Aqui há tempos, entrevista com a actriz Helena Laureano numa revista. Entre outros auto-elogios, diz a certa altura que “ser genuíno é lixado”. Elucida-nos Helena que ela, genuína, verdadeira, sincera, directa, é prejudicada por essas características, já que se subentende que vive num mundo de falsos, lambe-botas e medíocres, que não conseguem aceitar quem é genuíno (seja lá isso o que for). Mas a ideia, naturalmente, vem mascarada de “defeito”. Helena está longe de ser a única. Não faltam portugueses que fazem beicinho e se queixam “eu tenho este defeito de não deixar nada por dizer, de enfrentar toda a gente com a verdade”, “sabes, eu serei sempre prejudicado, porque só me interessa o lado emocional da vida e não ligo ao lado material”, “eu estou desajustado neste mundo, seria incapaz de trair alguém”. E por aí fora. Vá escutando. Ouvir esta gente é perceber que se dizem carregados de defeitos, porque são humanos e ser humano é fixe porque faz de nós pessoas sensíveis. Mas depois tudo o que dizem de si leva à imagem do potro selvagem que vagueia nos campos, de crinas ao vento, verdadeiro, amigo, companheiro, culto, incapaz de uma maldade e tantas, tantas vezes vítima de injustiças. Vá escutando. O tempo dirá se acertei ou não.
2 Anda para aí tremendo falatório. Ai, escândalo. Ui, corai de embaraço. Miley Cyrus, cantora pós-adolescente, anda desnorteada. E com tal ânsia de nos mostrar que quer enterrar a virginal Hannah Montana que um dia foi, que se atira a figuras que correm mundo. Pois que operou corte radical no cabelo, cobriu os lábios de vermelho vivo, veste-se com pouco mais do que lingerie, abana o rabo por tudo e por nada, e põe a língua de fora, enquanto se roça, lânguida, em quem calhe estar com ela no palco naquele momento. Ai, escândalo, é o que por aí mais se ouve. Alertado pelo desconforto geral, fui verificar as fotos e vídeos mais badalados. Bom, escândalo será eventualmente para os seus anteriores fãs, sobretudo para os que vão avançando na idade sem crescer no cérebro, e terão ficado presos para sempre na imagem da menina. Tirando esses, não vejo razões para tanto falatório e face corada. De Madonna a Rihanna, passando por todas as suas imitadoras, já se fez de tudo o que Miley faz agora. Eu iria por outro lado. E questiono-me, mais uma vez, como fiz com todas essas outras, se não será muito ténue a fronteira entre a bomba sexy e a pateta que dá vontade de rir. Vejamos: o que vejo é uma rapariga aos saltos, que abana as ancas e espeta o rabo, e que a qualquer momento põe a língua de fora, mordendo-a toda para um lado, enquanto revira e revira os olhos. Haverá eventualmente, quem trema de excitação. A mim, parece-me uma alcoólica que fumou coca e engoliu ecstasy, enquanto sofria um ataque de esquizofrenia: não, não é a minha ideia de fêmea que inspira desejo. Mas, enfim, se gostássemos todos do amarelo, isto era uma monotonia. Deixemos a Miley rentabilizar os seus desvarios, e deixemo-la até julgar que nos está a mostrar alguma coisa de novo. Fico é um pouco preocupado, porque ainda desloca a anca ou precisa de levar pontos na língua. O que me parece, e é apenas a minha opinião (vale o que vale), é que anda para ali uma grande confusão de identidade sexual. Talvez a rapariga fique mais tranquila quando resolver o assunto. O tempo dirá se eu estava certo ou errado.