Não tenho qualquer particular interesse em ver Rita Pereira nua, mas acredito piamente que muitos milhares de compatriotas têm. Então, para todos eles, uma fantástica notícia: Rita será capa e poster central da “Playboy”. E daí… talvez não. Quer dizer, Rita é capa e aparece umas quantas vezes na “Playboy”, mas entre aquilo e qualquer outra produção que já tenha feito para qualquer revista de TV ou cor-de-rosa, a diferença é zero. Arrisco dizer que só há duas explicações possíveis. Ou Rita e a “Playboy” quiseram vender gata por lebre, ou Rita e “Playboy” lusitana nunca folhearam uma “Playboy”. Sendo disparatada (julgo eu, julgo eu) esta segunda hipótese, quer-me parecer que estamos perante uma pequena fraude calculada. Sim, constato depois, ao ver que o que me fez confusão já tinha animado algumas discussões humorísticas, que houve “premeditação”. Ou seja, perante o burburinho provocado pelo ridículo, já tinham avançado vozes defensivas do lado da nossa estrela, e, ao que julgo saber, o agente e os inevitáveis amigos. Que nos explicam que a Rita disse logo, quando aceitou, que não queria fotos “vulgares” e que só aceitaria aparecer na revista se nunca aparecesse em nu integral. Parece-me exigência legítima, caso a Rita fosse convidada pela revista do “Público” ou pelo suplemento destacável de um jornal de Economia. Mas não foi o caso. Rita Pereira talvez necessitasse de perceber o que meia dúzia de crianças do País talvez ainda não entendam: a “Playboy” é uma revista de mulheres nuas, OK? Quem não gosta, não vê, não compra, não quer saber, mas a revista é isto, é isto há décadas, e é famosa por isso (embora muitos apreciem sobretudo a qualidade dos artigos ou das entrevistas de fundo…). Há nesta história uma fraude e uma confusão. A fraude está explicada, mas repito: Rita não aparece nua numa revista de mulheres nuas. A confusão está nas explicações da estrela e seus amigos, que utilizaram expressões como “bom gosto” e “sobriedade”, e a inevitável “quisemos uma produção cuidada”. Ponto um: para isso há centenas de outras publicações. Ponto dois: a lamentável, insultuosa, ultrapassada ideia de que a foto de um nu é sempre mais vulgar, porcalhota e de mau gosto do que uma mulher vestida. Ora, não só Rita Pereira e seus defensores deveriam dar uma voltinha pela história e obra de alguns dos mais reputados fotógrafos da última metade do século passado (Man Ray, Helmut Newton, Mapplethorpe, Leibovitz, e outras dezenas…), só para perceberem que há, por vezes, mais classe, bom gosto, declaração estética, afirmação de arte numa única boa fotografia de uma mulher nua do que em milhares de tristes exemplos de mulheres “vestidas”, como os seus “ousados decotes”, a sua “minissaia provocante”, as meias de renda, os saltos altos. É ainda mais estranho esta declaração de pudor vinda de uma actriz-apresentadora-estrela-modelo que ganha a vida a deixar ver pedacinhos de si. Bastava, aliás, que Rita Pereira fosse rever as fotos de uma cerimónia nos Estados Unidos, onde integrava a orgulhosa equipa de uma novela que recebeu um Emmy, para perceber que já mostrou tanto de si, tão mais do que o razoável, em tantas ocasiões que, sim, aí pediam um pouco mais de sobriedade, que isto de aparecer na “Playboy” era uma brincadeira de crianças. Cada um leva a vida que leva, cada um faz as suas escolhas, e ninguém, desde que sejamos todos adultos, tem nada a ver com isso. Mas Rita Pereira deveria perceber que a confusão que vai naquela cabeça sobre estética e ética não abona muito a seu favor. Em conclusão: quer posar para a “Playboy” porque se acha maravilhosa? Avance. Ah, mas afinal não quer aparecer com tudo à mostra? Escolha outra revista. É tão simples quanto isto, e os amigos e agentes e toda a gente que a rodeia e aconselha deveriam ter percebido uma coisa tão simples, antes de a deixarem mergulhar numa posição ridícula. Mas há ainda a cereja em cima do bolo, e vinda da própria Rita. Ouvi-a dizer, na vertigem de defender o “bom gosto da sua produção”, que desejava muito que os homens que comprarem esta “Playboy” olhassem para as suas fotos e tivessem um suspiro do género: “ora aí está uma mulher com quem queria muito… casar-me”. Claro que sim, é o comentário mais provável.
Gata por Lebre
Rita Pereira talvez necessitasse de perceber isto: a “Playboy” é uma revista de mulheres nuas, OK?