“O senhor Afonso não fala porque está em causa a sua liberdade”, explicou Paulo Gomes, o seu advogado de defesa, à porta do julgamento. Afonso Dias é acusado do rapto do menor Rui Pedro, há 13 anos em Lousada. E por causa da sua liberdade, nunca se saberá da vida de Rui Pedro. Assim foi o julgamento. Inúmeras sessões, 80 depoimentos (entre inspectores da PJ, comerciantes, familiares e antigos colegas de Rui Pedro, a própria prostituta Alcina Dias e outros), duas reconstituições, uma ida ao local de prostituição onde o jovem foi levado por Afonso, tudo foi feito para se perceber como e por que motivo desapareceu o menor. Mas de nada serviu. Nas alegações finais, o advogado encarregue da defesa de Afonso reconheceu assumir o papel de “advogado do Diabo” e chorou, dirigindo-se aos pais de Rui Pedro e dizendo saber o que sofrem porque também tem filhos. Chorou, mas não convenceu o seu cliente a falar. Sublinhou as contradições de alguns depoimentos, designadamente os dos amigos do Rui Pedro e o da prostituta Alcina. Passaram 13 anos. Não é difícil encontrar contradições na memória de diversas pessoas. Difícil é pôr o Afonso Dias a falar…
Acusado
Afonso Dias é apontado como o único responsável do desaparecimento de um menor de 11 anos, a 4 de Março de 1998. Está acusado da prática de um crime de rapto qualificado. A acusação sustenta que Afonso levou o menor para um encontro com uma prostituta (Alcina Dias) e que o Rui Pedro nunca mais foi visto, após esse encontro. Afonso Dias (por vezes de terço na mão), esteve todo o julgamento em silêncio. Admite falar, mas fora dos ouvidos da Lei. Está em causa a sua liberdade, como diz o seu advogado.
Filomena dava-lhe de comer
Filomena Teixeira, a mãe de Rui Pedro, conhecia Afonso Dias das ruas, um pobre rapaz a quem costumava dar as roupas e, por vezes, comida. Em troca, Afonso fazia-lhe alguns recados.
Um dia, Afonso apresentou–se na escola de condução de Filomena para tirar a carta. Depois de o fazer, começou a levar Rui Pedro à escola. Mais tarde, Afonso foi para a tropa e, de acordo com Filomena, o seu comportamento mudou. Por isso mesmo, ela proibiu-o de contactar com o menino. Mas este já tinha uma relação forte com o filho de Filomena. Encontravam-se às escondidas.
Nascido a 28 de Janeiro de 1987, Rui Pedro Teixeira Mendonça desapareceu a 4 de Março de 1998.