Deixamos ao leitor um apanhado dos crimes que marcaram a actualidade do país, quer pela sua visibilidade, quer pela forma como provocam nas pessoas uma maior sensação de insegurança. Apesar de igualmente graves, os crimes de colarinho branco não preocupam as populações. Os violadores e abusadores sexuais de menores, que alguns tribunais libertaram, sem qualquer acompanhamento ou controlo, a violência doméstica que cresce de forma vergonhosa e os assaltos com recurso a violência gratuita, é que provocam as maiores preocupações nas populações.
Mais violência e mais prejuízos
Os números da criminalidade cresceram outra vez. Só no primeiro semestre, o roubo por esticão subiu mais de 25%. Aumentaram os assaltos à mão armada, o roubo de veículos e os furtos nos supermercados. Mesmo para os que não duvidam dos números do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), apresentado em Abril pelo então ministro Rui Pereira, reconhecia um aumento do número de crimes violentos e graves. Em 2010, as polícias registaram mais de 413 mil crimes. Destes, mais de 24 mil são homicídios, raptos ou roubos. Em 2010 o crime violento subiu 1,2%,
Pior
Ao longo deste ano de 2011, os métodos criminais revelaram-se ainda mais violentos. O assalto a ourivesarias á lei da caçadeira cresceu e o numero de vítimas também. O assalto a caixas de multibanco à bomba ou com escavadoras, idem. O carjaking (roubo de viatura e abandono do ocupante) tem hoje um índice de violência crescente e uma mutação. Ao roubo do carro, os criminosos juntam agora o roubo e agressões gratuitas aos ocupantes. O homejaking (assalto a residências com os moradores lá dentro) revela a mesma mutação. Os habitantes são assaltados, roubados e agredidos violentamente. Em Novembro último, foi a vez do actual ministro da Administração Interna admitir que vivemos um agravamento da criminalidade grave e violenta. Numa comissão parlamentar, Miguel Macedo anunciou que vai abrir um concurso para admissão de mais de mil guardas para a GNR e PSP. Impunidade dos agressores, morosidade da Justiça, sageza dos defensores e a inabilidade das forças de segurança em cruzar informações, ajudam o crime. A instabilidade emocional e financeira nas forças de segurança agrava o quadro.
Criminalidade transnacional
Um estudo da Europol, concluído já este ano, revela que Portugal é uma das principais portas de entrada da criminalidade organizada, no espaço da União Europeia. Tráfico de seres humanos e droga são as principais actividades desenvolvidas em Portugal por organizações criminosas transnacionais. Emigrantes chineses são explorados em fábricas de têxteis, lojas e restaurantes, emigrantes do Leste na agricultura, crianças da América latina trazidas para o mercado do sexo europeu, e crianças romenas usadas na mendicidade e roubo. Quanto à droga, o estudo da Europol revela que um dos maiores corredores é da América do Sul para Portugal e Galiza. Cocaína é a droga que mais circula. Mas também aqui chega de avião vinda dos Balcâs. Mas a maior quantidade de haxixe que cá entra continua a vir de Marrocos. Agora controlado por Ingleses e Holandeses que orientam depois as reexportações para o Norte Europeu. A facilidade com que a emigração ilegal circula em Portugal é apontada pelo estudo como um dos factores de aumento da actividade criminosa transnacional.