As primeiras suspeitas foram levantadas por Filomena, a mãe do cantor, a propósito das assinaturas que aparecem nos documentos referentes à compra e venda de automóveis entre a Auguscar e o seu filho Angélico Vieira (ver caixa). “Não são do meu filho”, diz Filomena. Um amigo da família de Angélico, Paulo Fonseca, alinhou pelo mesmo diapasão, recentemente, no programa “Querida Júlia”, da SIC (segunda, 12 de Dezembro). “Aquilo não é a assinatura do Sandro”, disse. Emendando, reconheceu não ser a si quem compete aferir a assinatura, mas reforçou ter tido o BI de Angélico vários meses e não reconhecer nos documentos de venda dos automóveis a escrita do compadre. Amigo de Angélico há oito anos, Paulo explicou à tvmais que “tinha indicações do dr. Nabais para não falar” e que só agora o faz a pedido da mãe de Angélico. O actor costumava refugiar-se na casa deste seu amigo em Valença do Minho.
Auguscar
Foi o próprio Angélico quem apresentou o dono da Auguscar a Paulo. “Sinto-me desapontado com o Augusto Fernandes, de quem era amigo e a quem fui apresentado pelo Sandro. Ele [dono da Auguscar], ainda o rapaz estava no hospital, disse-me que o BMW era emprestado e que não ia deixar a família do Sandro na mão. Um empregado do Augusto também disse que o carro era emprestado”, disse Paulo à tvmais. Certo é que o negócio da compra e venda de automóveis entre Angélico e a Auguscar está documentado. E daí já saíram documentos para os notários. A venda de um Audi e de um Ferrari e a aquisição do BMW 635D, onde viria a falecer foi contada pela tvmais, em primeira mão, na edição de 7/09/2011.
Certidão e investigação
Criadas as dúvidas sobre a assinatura de Angélico, o Ministério Público enviou uma certidão para o Tribunal de Vila do Conde, onde será requerida uma perícia à assinatura do músico (ver caixa). A conclusão da investigação será determinante para as indemnizações que as famílias das vítimas possam vir a pedir.
Versões contraditórias
“Agora estou maluco é com um Maserati. Vendi o Porsche por 45 paus, comprei o jipe para a minha mãe, vendo o Cherokee e o Ferrari, por 80 paus, e o Audi, por 25, e faço negócio”, conta Paulo que Angélico lhe confessou 15 dias antes de falecer. Esta versão não condiz com a que Paulo Fonseca refere ter havido entre Filomena e Augusto. O dono do stand terá dito à mãe de Angélico que “não tinha dinheiro. Que o Sandro lhe vendeu o Audi, por 20 mil euros, e o Ferrari, por 60 mil euros, para pagar o BMW 635D”. Filomena contou a Paulo que “perguntou ao Augusto onde estava o dinheiro do Porsche Cayenne [vendido por 45 mil euros] e que este respondeu que 18 mil euros ficaram para pagar o jipe [que Angélico ia oferecer à mãe] e que os 27 mil euros restantes lhe tinha dado em dinheiro”, conta Paulo Fonseca, que remata, dizendo que “os 27 mil euros não aparecem. Nem em depósitos nem investimentos”. À despedida, Paulo Fonseca reconheceu à tvmais que Angélico era “aéreo” com tudo o que fosse papéis. “Tivemos uma moto com declaração de compra e venda mais de um ano. E ele sem os documentos nem o BI. Não me admiro que o Augusto tivesse papéis em branco assinados pelo Sandro para a possibilidade de poder vender um dos carros. Ele até estava em França…”
Perícia de escrita manual
Para apurar a autenticidade de uma determinada assinatura, as autoridades recorrem às Perícias de Escrita Manual feitas no Laboratório de Polícia Científica (LPC) da Judiciária. As dúvidas ocorrem em contratos, assinaturas, cheques, ou textos escritos de forma manual. Os especialistas do LPC usam diferentes tipos de luz, sistemas ópticos e informáticos, observam a tinta escrita, a força, os ângulos, as repetições, a ligação, a dimensão da letra e outros pormenores identificativos da escrita de cada um. Tudo é “visto à lupa”. Na “sala de autógrafos”, os alegados autores de um documento suspeito fazem ditados à mão que, comparados com o documento em causa, também ajudam os “CSI” da PJ a determinar a autoria da escrita. A grafologia é, por vezes, referida para análises forenses, mas incorrectamente. A ausência de base científica é a grande pecha da grafologia. Os defensores desta arte dizem que tiram conclusões sobre a personalidade de um indivíduo a partir da análise da sua escrita.
A questão do seguro
Angélico terá dito pretender transferir o seguro do Ferrari para o BMW 635D. Não chegou a fazê-lo. Pelo menos não é conhecido seguro válido naquela data. Naquela noite, Angélico jantou em Baiona, Espanha, e regressou num BMW 530 por Vila Nova de Cerveira, até à Póvoa de Varzim, onde, a seu pedido, um funcionário do stand Auguscar lhe entregou o BMW 635D. Pouco mais de uma hora depois, às 3.25 h, deu-se o acidente.
Arquivo
Em finais de Novembro, o Departamento de Investigação e Acção Penal do Baixo Vouga – Aveiro – arquivou o processo, não encontrando responsabilidades criminais no acidente (25 de Junho), onde o cantor e o seu amigo, Hélio Filipe, faleceram. Foi dado como provado que o BMW seguia em excesso de velocidade e que o despiste terá ocorrido na sequência do rebentamento de um pneu.