Primeiro tinha sido um pneu. “Saltou uma roda e o Angélico só teve tempo de gritar para nos salvar”, contou Hugo Pinto, um dos ocupantes, ao “Correio da Manhã” (“CM”), a 26 de Junho. “Em princípio, não teriam cinto de segurança”, disse o tenente-coronel Rui Barreiros, da GNR, citado pelo “Diário de Notícias”, a 25 Junho, afirmação depois desmentida pelos bombeiros. “O Angélico levava cinto de segurança, ao contrário do que dizem”, revelou Hugo Pinto. “Erro mecânico no eixo da roda traseira do carro”, referiu também Hugo Pinto, à TVI, a 30 de Junho. Para evitar contradições e “perturbações”, na GNR há ordens para investigar, mas em silêncio! Blindado a sete chaves e com muito por esclarecer, o acidente que vitimou Angélico Vieira mobiliza agora companhias de seguros, o Núcleo de Investigação Criminal-Acidentes de Viação da GNR (NICAV) e a PJ. Cada um por si. Mas todos estes investigadores proferem a mesma sentença: “Não há nada a dizer”. Há duas vidas perdidas e uma terceira que “não tornará a ter uma vida normal, se sobreviver”, disse à tvmais uma fonte do Hospital de Santo António, no Porto. As responsabilidades civis que estão por apurar são avultadas.
Responsabilidades I
Não estão ainda definidos todos os contornos que podem ajudar a apurar responsabilidades. Excesso de velocidade, consumo de álcool ou drogas e condução de carro sem seguro são responsabilidades que recaem sobre o condutor. Pneu rebentado, manutenção duvidosa, falha mecânica, são responsabilidades que recaem sobre o stand ou a marca. O stand pode ser chamado a assumir responsabilidades por ter permitido sair um carro sem seguro. O único sobrevivente do acidente é colaborador no stand. Nenhum carro particular pode circular sem seguro (ou sem que o condutor tenha seguro de carta). Falta ainda apurar a causa de morte da primeira vítima. Hélio Filipe, cuspido durante o despiste, morreu do acidente, ou só morreu ao ser atropelado pelo Opel Corsa, após o despiste do BMW?
Responsabilidades II
A que velocidade circulavam os dois carros (BMW e Opel Corsa)? O cálculo pode ser feito a partir dos vestígios e marcas deixados no local do acidente (o despiste do BMW e o atropelamento seguinte feito pelo Opel Corsa) e considerando a hora de entrada nas portagens da A1. O acidente deu-se 50 km à frente. Num primeiro momento, o Instituto de Seguros de Portugal deverá assumir as diversas despesas com as vítimas e famílias, hospitais, Brisa, carros, etc…, através do Fundo de Garantia Automóvel. Mas exigirá retorno desse dinheiro sobre quem forem apuradas as responsabilidades em processo. Se as responsabilidades recaís-
sem sobre Angélico, os seus herdeiros (neste caso, os seus ascendentes, porque não deixou filhos) seriam chamados a assumi-las. Poderiam eximir-se delas, repudiando a herança. Mas nesse caso, estariam também a abdicar de todos os royalties e direitos autorais dos trabalhos de Angélico. No limite, o dono do stand pode também ser chamado a assumir responsabilidades solidariamente.
O acidente
Sábado, 25 de Junho, 3.25 h. Na A1, no sentido Porto-Lisboa, seguem Angélico Vieira e Hugo Pinto, nos bancos da frente. Armanda Leite e Hélio Filipe viajam no banco de trás de um BMW 630. Por volta do km 258, junto à saída para Estarreja, o cabriolet despistou-se e capotou. Um dos seus ocupantes (Hélio Filipe) é cuspido e atropelado por um segundo carro (Opel Corsa) que vinha no mesmo sentido. Hugo saiu com ferimentos ligeiros e correu para as portagens (menos de 100 m) a pedir socorro. O comandante dos Bombeiros de Santa Maria da Feira, Manuel Neto, afirmou mais tarde que os bombeiros encontraram Angélico preso nos destroços do carro e inconsciente. Além da mulher caída no chão e da terceira vítima projectada a 50 metros, depois de colhida por um outro carro, que já estava cadáver. “Senti alguma coisa a passar por baixo do carro, mas pensei que eram peças do carro”, disse Carlos Silva, que atropelou a vítima, ao “CM”. As velocidades a que seguiam o BMW e o Opel Corsa ainda não são conhecidas.
Nota: Por vontade do autor, este texto não segue as regras do novo acordo ortográfico