Foi em “Alta Definição”, numa entrevista conduzida por Daniel Oliveira, que Ivo Lucas falou pela primeira vez sobre um dos períodos mais negros da sua vida. Recém-sagrado vencedor da terceira edição de “A Máscara”, o ator confessou que o regresso ao trabalho – em “Amor, Amor” e depois no concurso apresentado por João Manzarra” – foi fundamental para, de alguma forma, seguir em frente depois do acidente que vitimou Sara Carreira, a 5 de dezembro de 2020, em que Ivo era o condutor. O cantor destacou que esses foram dois dos três momentos cruciais neste “processo de aprendizagem”, juntando o carinho dos fãs ao longo deste mais de ano e meio.
Receção calorosa
Embora a SIC o tenha posto à vontade para voltar à antena quando se sentisse preparado, e jamais o deixou desamparado – como fez questão de frisar –, Ivo decidiu regressar ao trabalho pouco mais de um mês depois da tragédia. “Quando voltei às gravações, não foi fácil. É quase a sensação de OK, tenho de dar este passo, mas depois pensas: Será que o devo dar, será que é a altura para o dar?”, explicou, lembrando que temeu ser visto como “um coitadinho”. “Não gosto que tenham pena de mim”, sublinhou.
Na semana antes de começar a gravar foi, na sexta-feira à noite, com os estúdios fechados, ao décor “Leandro” com o chefe de produção. “Só para eu me sentir… pôr os pezinhos devagar na água”, recordou. “As pessoas estavam com medo de lidar comigo e compreendo”, contou, lembrando um momento em particular que lhe deu força para continuar. “Estávamos a gravar e, a meio de uma cena, o Unas diz qualquer coisa ou eu digo qualquer coisa, e desmanchamo-nos a rir um para o outro e foi aquela sensação de: Estou a rir…”, avançou recordando as palavras do colega: “Pá, Ivo, é tão bom estares aqui. Gosto tanto de trabalhar contigo. Divirto-me imenso. Obrigado”. O ator mal conseguiu responder mas pensou: “É um passo”.
Outro momento que não esquece deu-se com Rogério Samora, que morreu em dezembro de 2021, na sequência de uma paragem cardiorrespiratória nas gravações da novela da SIC. “A meio de uma cena, abraça-me, dá-me um beijo na cara e diz: Gosto muito de ti.” Também Ricardo Pereira, Filipa Nascimento e Joana Aguiar foram, segundo revelou, pessoas muito presentes neste processo. “O regressar podia ter corrido mal para a minha cabeça, mas ainda bem que o fiz. Era o mundo a ruir todo, mas era regressar a uma normalidade”, declarou numa sincera reflexão sobre o processo de luto, que diz ser “muito íntimo”. “Tens de dar espaço para sofrer, para chorar. Tens de te permitir cair, porque, quando te levantares, vais com força”, reconheceu ainda.
Desistir “Nunca!”
A última atuação de Ivo Lucas em “A Máscara”, que marcou o seu regresso à vida pública e em que o ator interpretou o tema de Céline Dion “My Heart Will Go On”, em lágrimas, olhando para o céu, foi descrita por Daniel Oliveira como “poética”. Reforçando a importância que o programa teve na sua vida, o ator confidenciou: “Há dias em que é muito difícil”. “Tens de arranjar pequenos mecanismos para não ires para baixo. Há dias em que era mais fácil desistir, mas não vai acontecer. Nunca”, garantiu.
Silêncio sobre o acidente
No final da entrevista, Daniel Oliveira perguntou o que aconteceu na fatídica noite. O artista fez saber que nunca vai falar publicamente a propósito ou sobre a relação com Sara Carreira. “O que ninguém sabe, ninguém estraga”, começou por dizer, reforçando: “Nunca expus a minha vida, por isso não ia ser agora”. “Percebo a vontade de as pessoas quererem saber, até pelo carinho, mas há coisas que só a nós dizem respeito”, destacou.