Cinco meses depois de ter saído da TVI, Fátima Lopes fala à TvMais sobre a sua nova vida de comunicadora, depois de 27 anos a apresentar programas, e ter agora mais tempo para a família. Garante que não recebeu nenhum convite da SIC, apesar de ter uma boa relação com Daniel Oliveira, e que seria feliz a apresentar o “MasterChef”, na RTP1. Saiba ainda o que diz de Cristina Ferreira e como está a relação com Manuel Luís Goucha…
Tem muito em comum com a personagem principal deste romance, isso significa que é biográfico?
A Sofia [personagem] é honesta, verdadeira, um bom ser humano, que não passa por cima de ninguém e para quem as pessoas têm mais valor do que as coisas. Eu sou assim. No resto, embora possa parecer que é parecida comigo, ela não é.
Quais são os aspetos que as separam?
Ela mudou-se para o Alentejo e eu nunca fiz uma mudança dessas na minha vida. Não tem filhos, enquanto tenho dois, graças a Deus, nunca teve uma relação duradoura e feliz, ao contrário de mim, que, embora tenha passado por dois divórcios, tive dois casamentos muito felizes. A Sofia não tem irmãos, já perdeu a mãe e é por isso diferente de mim. Quem lê o livro pode dizer que está a ouvir a Fátima, mas se fui eu que escrevi o romance, isso é normal, pois não se trata de um escritor fantasma.
Não sendo a Fátima que está retratada na obra, em quem se inspirou?
Em ninguém em particular. Passei 27 anos a ouvir histórias de pessoas. Há dias fiz as contas e cheguei a um número: entrevistei umas seis mil pessoas. Imaginem as histórias que povoam a minha cabeça. Ouvi de tudo. Não me falta inspiração.
E também encontrou o amor onde menos esperava?
Isso nunca me aconteceu. Mas é normal, às vezes quando menos esperamos, num determinado sítio, cruzamo-nos com alguém e surge uma história de amor. Isso é extraordinário!
Voltou a encontrar o amor depois do divórcio?
Neste livro, a personagem encontra o amor por ela própria e é para aí que eu aponto todas as minhas fichas.
Desde o seu segundo divórcio tornou-se mais reservada em relação à sua vida sentimental?
Sim. E irei continuar a ser.
Essa postura é porque ficou com algum trauma por ver o seu segundo casamento chegar ao fim?
Não. Quero a minha vida pessoal mais recatada. Não tenho nenhum ganho em fazê-lo de forma diferente. Sinto-me mais protegida assim, além de proteger os meus filhos, pais e amigos.
Este livro já foi escrito depois de sair da TVI?
Em outubro de 2020 pensei em regressar ao romance e criei a estrutura da obra, ou seja, uma história sobre a experiência de alguém que fez uma grande mudança na sua vida e recomeçou de novo. Senti esta necessidade depois da experiência da pandemia e porque o meu trabalho foi sempre ouvir histórias de vida, conheci muitas pessoas que renasceram.
Em janeiro, depois de anunciar uma “bomba”, acabou por ficar com mais tempo para escrever?
Deu-se a minha saída da TVI e o processo ficou concluído no final desse mês. Mergulhei na escrita e fiz um horário completo de oito horas de trabalho atrás do computador. Sou bastante rápida a escrever, criativa e já tinha a história na cabeça. Veio o confinamento e fiquei com os meus filhos em casa, enquanto eles iam tendo as aulas, eu avancei no livro. Só interrompia para cozinhar e fazermos as refeições.
Ao fim de cinco meses de ter saído da TVI, está orgulhosa ou arrependida da sua decisão?
Não me arrependo. Não por uma questão de orgulho, mas por saber que fiz o que estava certo. Tenho a consciência tranquila que decidi o melhor para mim.
O que falhou nas negociações?
Não tínhamos as mesmas ideias e os mesmo objetivos. Não havia, portanto, uma base de acordo. Não se passou mais nada. A explicação é simples: não chegámos a um entendimento e ponto final.
A falta de entendimento teve a ver com mais uma redução de salário?
Não me iam reduzir o salário, mas já tido antes uma redução de cerca de 30% no vencimento. Parte do que recebia mensalmente tinha várias fontes. Passando de um programa diário para um semanal, parte dessas fontes desapareciam.
Uma dessas fontes seriam as telepromoções que iria perder ao passar para o sábado à noite?
Só tenho a dizer que se uma parte desaparecia, então, teria de ser recompensada por isso. A TVI não me apresentou uma proposta interessante e foi difícil chegar a um acordo. Não nos entendemos, mas cada uma das partes seguiu o seu caminho e tudo bem.
Já não se sentia feliz na TVI?
Pelo facto das coisas não estarem a correr bem, não me podia sentir feliz. Houve coisas que tinham sido feitas e que não foram propriamente muito bonitas. Isso deixa qualquer pessoa afetada.
Como está a sua relação com Cristina Ferreira?
Como sempre, cordial. Não tenho nenhum episódio em que a Cristina não tenha estado bem comigo para colocar em cima da mesa. Sou extremamente honesta e não uma pessoa de inventar o que não é verdade. Eu saí da TVI e cada uma seguiu com a sua vida.
Trouxe uma indemnização milionária?
Fechámos as contas e recebi aquilo a que tinha direito por terminar as minhas relações contratuais. A TVI portou-se bem comigo, pagou-me o que eu tinha a receber por lei e não tenho nada a dizer.
Com o protagonismo dado a Maria Cerqueira Gomes, sente que perdeu espaço na TVI?
Os novos valores não me estavam a tirar o trabalho ou a fazer sombra. O protagonismo da Maria Cerqueira Gomes não me incomodou nada. Ela é uma pessoa espetacular e com quem me dei muito bem. Sou bem resolvida, ao contrário de muita gente neste meio que tem medo de ser esquecido ou ultrapassado. Não tenho medo e até pedia a quem me substituía (em “A Tarde é Sua”) para fazer formação durante uma semana e acompanhar-me nos bastidores. Se tivesse receio, então fechava-me em copas e ficava a rezar para que se estampasse.
Sentiu que ao passar para o sábado, deixando as tardes, ia ter um papel secundário na TVI?
De maneira nenhuma. Quem pensa assim é mal resolvido. Concordei em sair das tardes porque esse horário precisava de ser renovado.
É verdade que recentemente foi convidada pela TVI para apresentar um novo programa?
Não vou comentar essa notícia.
Como reagiu às críticas negativas de alguns seguidores por ter voltado à TVI, como convidada de “Dois às 10”?
Respeito a opinião das pessoas e só tenho pena que não consigam fazer como eu, ou seja, separar as águas, em vez de misturem tudo no mesmo saco. Deixei de ser apresentadora daquela casa e não regressei como apresentadora, mas como qualquer cidadã que vai promover um livro. Convidaram-me e isso é sinal de que a TVI não tem nada contra mim. Ia recusar o convite porquê? Para alimentar a ideia de que saí em guerra quando não foi assim. Fui e entrei de cabeça erguida porque não devo nada a ninguém.
Teme cair no esquecimento do público por não estar no ecrã?
Não. As minhas redes sociais cresceram exponencialmente com a minha saída da TVI, o que não deixa de ser um fenómeno curioso. Não deixo de tomar uma decisão por medo. Isso não joga comigo porque não sou acomodada. Assumi para mim própria que estava a começar do zero e nestes cinco meses fiz uma enorme quantidade de formações e palestras em empresas, cursos em faculdades. Agrada-me o trabalho de public speakar [orador público] e comunicadora. Trabalhei que nem uma moira, partindo sempre do pressuposto de que tinha de provar tudo. É bom ter essa humildade.
Vai ser esse o seu futuro?
Não sei se vai ser esta a minha vida. Só que eu não desisto. Sou muito trabalhadora e acredito em mim. Além de que estou a dar uma boa lição aos meus filhos: façam por ter sucesso naquilo que escolhem e não sejam pessoas acomodadas, mesmo que dê trabalho mudar.
Vai reformar-se da carreira de apresentadora?
Adoro a minha profissão e não perdi o gosto. Continuo a amar apresentar programas e sinto que o público gosta de mim, tratou-me bem, deu-me carinho e levou-me ao colo. Devo quase tudo da minha vida profissional à TV e sou grata. A vida deu uma volta, mas um dia destes… eu volto!
Além da escrita, está dedicada ao canal de culinária no YouTube com o chef Vítor Sobral (“Ó Chef”). Como surgiu a dupla?
Já nos conhecemos há muitos anos e ele sabe que tenho gosto pela cozinha, sou uma eterna curiosa, sempre a pedir-lhe dicas. Em plena pandemia, convidou-me para ir ao espaço dele cozinhar e fazer um vídeo. Percebemos que nos entendíamos lindamente, ele enquanto chef e eu comunicadora, fazendo-lhe perguntas normais de quem gosta ou quer aprender a cozinhar. Por isso, o Vítor perguntou-me: E se levássemos isto mais a sério?. Respondi-lhe: Acho que sim! O nome surgiu por lhe estar sempre a dizer: Ó chef deixa-te lá de coisas. Já gravámos 24 programas, sendo que 12 deles estão no ar.
Acaba por ser diferente do que fez até agora?
É uma experiência gira. Tive espaço de culinária nos meus programas e aprendi muito com isso, só que um programa que começa e acaba na cozinha tem uma linguagem muito própria. Desafia-me para aprender.
E a dupla pode passar da internet para a TV, já que Vítor Sobral é um dos chefs de “MasterChef” (que está de volta à RTP1). Gostava de apresentar?
Nunca pensei apresentar um programa como o “MasterChef” e estou a ser sincera, mas acho que é um formato muito interessante. Via-me a apresentar o “MasterChef”, talvez por gostar tanto de culinária e de ver as pessoas a aprender.
Se a convidassem aceitava?
Não penso nisso. No entanto, e porque acho o formato interessante, acho que seria feliz a fazer o “MasterChef”.
O que gosta mais de cozinhar?
Cozinha tradicional portuguesa, mas também de arriscar. Gosto de fazer feijoada, caril, lasanha, pratos com legumes, sopas ou bifes com um molho que invento na hora. A minha mãe costuma dizer que eu tenho dois olhos para inventar.
E come de tudo ou evita muita coisa para se manter elegante?
Há pessoas que devem pensar que por ser elegante só como folhas de alface e bebo copos de água. É mentira. Eu sei é comer bem, mas se aparecer um petisco, não resisto, como as outras pessoas.
Sem a TV, tem mais tempo para dedicar à família?
Não tenho muito tempo livre, mas agora sou senhora do meu tempo. Posso dizer sim ou não a isto ou aquilo. Quero dar aos meus filhos a atenção que eles merecem.
O que dizem os seus filhos [Beatriz, de 21 anos, e Filipe, 12] sobre a sua nova vida?
Estão radiantes! Levo e vou buscar o Filipe à escola, a menos que seja o dia de ser o pai a fazê-lo. Vou ver os treinos dele, o que não acontecia, e faço o jantar. Antes, tinha de me socorrer dos meus pais, assim dou-lhes descanso porque já são velhotes e merecem.
Já recebeu algum convite da SIC?
Não.
Nem uma abordagem desde que anunciou a sua saída de Queluz?
Não vou dizer se tive ou não alguma abordagem. Eu é que sei da minha vida e não vou dar explicações. Só posso dizer que abordagens já tive muitas e bastante diversas. Fico-me por aqui.
O seu profissionalismo é apreciado na SIC?
Acredito que sim. Quero acreditar nisso.
E sente que é desejada em Paço de Arcos?
Sinto que as pessoas da SIC gostam de mim. Já sentia isso, mas quando fui ao programa da Júlia [Pinheiro] confirmei, pela forma como fui recebida, o carinho das pessoas e a felicidade por me verem ali.
Gostava de regressar à casa onde iniciou a sua carreira?
Se a SIC me apresentar um projeto que para mim faça sentido, porque não?
Algo semelhante aos que conduziu no início da sua carreira, como “Perdoa-me” ou “Surprise Show”?
Não. Algo diferente do que já fiz há 27 anos, mas também não sei dizer o quê.
Como é a sua relação com Daniel Oliveira?
Quando eu saí da SIC, o Daniel já tinha regressado da RTP1, estava a fazer “Alta Definição” e envolvido em outros programas. Dei-me sempre muito bem com ele. Aliás, quando estava na RTP1, convidou-me para participar no programa que tinha na altura, que era também de entrevistas longas e surpresas. O Daniel gravou o programa e teve o cuidado de o emitir no dia do meu aniversário. Nunca me esqueci porque teve um significado muito especial para mim. Fiquei com um carinho especial por ele pela forma como me tratou e respeitou.
Mantiveram o contacto até hoje?
Sim. A partir desse programa continuámos a dar-nos. Fomos falando e trocando mensagens. Mesmo depois da minha passagem para a TVI e depois de o Daniel voltar para a SIC, almoçamos algumas vezes para meter a conversa em dia.
E têm conversado agora?
Ele é um senhor e ele sabe separar as águas. Eu também sou uma senhora e também sei separar as águas. Essa é a razão de nos darmos bem e damo-nos mesmo muito bem.
Esperava que conseguisse tão cedo colocar a SIC na liderança das audiências?
O trabalho espetacular que o Daniel Oliveira está a fazer não me surpreende. Sempre achei que ele é extraordinário. Um profissional de mão-cheia. Quando era jovem e ainda sem estas competências e responsabilidade, já eu achava que ele era uma pessoa com muita visão e um apaixonado por TV. É preciso amar muito isto e ter os pés bem assentes na terra para saber fazer bem e ele sabe fazê-lo.
Como está a sua relação com Manuel Luís Goucha, depois de ele se ter referido a si como a “Santinha”?
Igual ao que era. Não deixei de ter a relação que tinha. Sei separar as águas.
Já falou com ele?
Não, mas isso está ultrapassado. Não sou pessoa de mágoas…