“O Filipe é um vigarista. Roubou-me 30 mil euros!”, diz, indignado, Roger Robleño, assim que a TvMais começa a falar sobre Filipe Camejo, de 50 anos, o agricultor da Aldeia da Ponte, que atualmente participa no programa da SIC “Quem Quer Namorar com o Agricultor?”. “Ele saiu fugido de Espanha. Agora está a morar nessa quinta na Guarda, porque o pai faleceu e lhe deixou a propriedade como herança, mas aquilo não é só dele, também é de um tio. Não acredito que a SIC chama uma pessoa dessas para um programa, sem conhecer o passado dele”, reforça.
O brasileiro, que atualmente vive em Madrid, começa por explicar como conheceu o criador de gado. “Morei três anos em Cascais e foi em 2005 que conheci o Filipe. Ele morava numa casinha modesta no centro da vila. Sempre gostou de aparentar uma vida que nunca teve. Quando o conheci tinha um bar em Cascais, mas não durou muito, pois ele não é nada bom para gerir negócios”, explica. Foi assim que se tornaram amigos. “Além de ter o bar, era DJ, passava música. Eu era solteiro, fizemos muitas festas juntos. Depois casei-me, tive dois filhos e tudo mudou!” Roger saiu de Portugal e mudou-se para o seu país natal.
Mesmo do outro lado do Atlântico mantiveram contacto e Roger fazia alguns trabalhos ligados à área do design para o amigo português. Foi em 2015 que Filipe o aliciou a mudar-se para o Sul de Espanha com uma proposta de sociedade num espaço de restauração. “O restaurante de sushi ficava em Torreguadiaro, perto de Cádiz, no Sul de Espanha. A ideia dele era fazer a sociedade, mas acabei por ser enganado”, conta. “Fui eu que montei tudo, o nome do espaço, a imagem do restaurante, o cardápio, toda a remodelação foi idealizada por mim. Ele enviava fotos do espaço e eu enviava tudo do Brasil.” Na altura, Roger era proprietário de uma produtora e uma agência de publicidade no Brasil. “Fui persuadido pelo Filipe a vender tudo e juntar-me a ele em Espanha para abrirmos uma sociedade. Saí do Brasil com a minha mulher e a minha filha depois de me desfazer de todos os meus bens. Tudo valia mais de 100 mil euros , e eu vendi por metade do valor, para apostar nessa sociedade do restaurante.”
Filipe insistia para Roger trocar a insegurança do Brasil, alegando que em Espanha teria uma vida boa. “Antes de deixar tudo para trás, ele pedia-me para fazer coisas relacionadas com o meu trabalho. Eu, como amigo, fiz sempre e nunca lhe cobrei nada, porque tínhamos efetivamente uma boa amizade. Ao surgir o restaurante foi a oportunidade para ir para Espanha. Ele adiantou o restaurante todo com as coisas que eu enviava do Brasil. Tenho tudo documentado, nunca recebi um cêntimo, ainda lhe emprestei dinheiro, cerca de dois mil euros, e ele desapareceu!”, conta.
“Deve dinheiro a toda a gente!”
Não foi só Roger que saiu lesado neste negócio. “Sei que ele ficou a dever uma série de meses de aluguer do espaço. Esteve aberto algum tempo, depois fechou-o com a promessa que voltava a abrir no ano seguinte e nunca mais voltou! Isto foi o que as pessoas me informaram, que trabalharam lá e nunca receberam nenhum pagamento. Ele ficou a dever dinheiro a todos os funcionários do espaço. Aliás, ele deve dinheiro a toda a gente!”, revela o brasileiro. Quando chegou a Espanha com a família, Roger percebeu a sua situação: “A coisa desandou quando a nossa sócia me falou que ele dizia que eu estava ali para ajudar em algumas coisas. Pedi a um gestor para verificar a empresa e realmente eu não aparecia como sócio. Nessa altura já lhe tinha emprestado dinheiro. Ele usava o dinheiro todo que ganhávamos no restaurante para manter uma pequena fazenda onde tinha alguns cavalos”.
Denúncias já têm quatro anos
Em julho de 2015, Roger apresenta a primeira queixa relacionada com os serviços relacionados com o design e marketing prestados ao espaço de restauração, que nunca foram pagos. O processo decorre em San Roque, no município de Cádiz, no Sul de Espanha, como mostramos na página ao lado. Em agosto do mesmo ano, apresenta nova queixa, mas desta vez relacionada com atos de vandalismo praticados contra o seu carro. Segundo consta nos autos, Roger testemunhou os danos feitos por Filipe no veículo, que estava estacionado na rua.
“Não faço isto pelo dinheiro”
Foram amigos que acompanham o programa que alertaram o brasileiro para a participação de Filipe no reality show da SIC. “Tenho muitos amigos em Portugal e ligaram-me para dar a notícia, que ele está a participar no programa.” Apesar de, até então, não saber nada do criador de gado da Guarda, Roger tinha algumas informações. “Já sabia que ele tinha recebido uma herança. Mas nessa altura ele ainda estava aqui por Espanha. Andei dois anos atrás dele e depois pedi à advogada para desistir do processo que estava a decorrer. Já não tinha esperança.” Roger explica porque decidiu denunciar o ex-amigo: “Não ando à procura de ganhar dinheiro com isto, só quero aproveitar a ocasião para desmascarar este indivíduo. Agora vou conversar com a advogada para saber qual será o melhor procedimento. Como foi há pouco tempo que pedi para desistir do caso, acredito que ainda esteja a correr o processo contra ele”. Roger Robleño está indignado com a imagem que Filipe transmite na TV. “Ele está a fazer-se passar por rico no programa. Confesso que me deu vontade de ir atrás do dinheiro todo que perdi à sua conta. Não pelo dinheiro, mas para acabar de vez com a sua reputação. Desisti há pouco tempo de andar com o processo para a frente, mas isso não quer dizer que tenha sido concluído. Como tudo naquele município espanhol é lento, com certeza o processo ainda está a decorrer”, afirma, acreditando que ainda pode reverter a situação.