A acreditarmos piamente nas audiências, uma grande maioria de portugueses adora novelas nacionais. Pouco lhes importa que as historietas sejam sempre as mesmas, servidas pelos mesmos actores. Que um mesmo rosto se chame ontem Vasco, hoje Carlos e a amanhã Francisco, e que, para além de uma muda eventual de camisa ou de óculos, pouco faça de diferente de uma novela para outra. A malta gosta. Distrai e não os obriga a "pensar". Há quem veja isto como um elogio ao produto, portanto…A questão traz uma outra eternamente agarrada, e que se arrasta igualmente pela literatura, cinema, pintura, música. Os que estão ligados a produtos de "sucesso" (audiências ou vendas) logo enchem o peito, esfregando-nos na cara que a sua audiência é a "prova" de que o que fazem é bom. Da mesma forma, no extremo da corrente de parvoíce simplista, os "artistas" cheios de auto-comiseração que só são vistos ou comentados pelos amigos costumam dizer que não trabalham para o "grande público" (visto como uma cambada de multidões iletradas e incultas). Antes de mais, não há nada nos gostos que sirva de prova. Basta lembrar o velho e verdadeiro "gostos não se discutem". A prova de que falam os que gostam de exibir o seu sucesso, mais não é do que querer dar um carácter objectivo ao reino onde impera a subjectividade (gosto pessoal).
Gostam de dizer que os números traduzem uma qualidade, quando uma palavra e outra são de universos completamente distintos. Portanto, imune a números, baseado apenas no gosto pessoal, parece-me que a pobreza da ficção nacional de novelas é confrangedora. Eventualmente, a própria "máquina" de produção ilimitada em série é a grande culpada, com falta de tempo para produções cuidadas, imaginativas, textos que não sejam clones uns dos outros, ou actores diferentes que pudessem trazer frescura, em vez desta pequenez de mercado que faz com que vejamos constantemente as mesmas caras, apenas com nomes diferentes. Só isto daria pano para mangas, mas avanço com esta extensa introdução do panorama geral para me deter num pormenor particular, que parece ser muito do agrado dos nossos actores, argumentistas, público e, até, críticos de televisão que se rendem por pouco: os vilões. Só de si, a designação já me faz sorrir. Mas ainda me faz sorrir mais o facto de tudo o que é actor ou actriz, do mais caloiro ao mais experimentado, dizer em qualquer entrevista que é o seu sonho, interpretar alguém "execrável". Numa entrevista, Fernanda Serrano diz adorar a "mulher pérfida" que lhe calhou em sorte interpretar agora numa novela (pela centésima vez). Numa outra entrevista, o mais prolífero escritor de novelas avisa-nos que escreveu uma personagem tão vilã, tão vilã, mas tão vilã para Pedro Granger, que não se admira nada que as pessoas lhe queiram bater na rua…E muitos, muitos mais exemplos. Depois, é ver o produto. E lá está o vilão, com os seus "olhares enigmáticos, os seus silêncios pérfidos, a sensação que temos (oh, terror!) que está a dizer uma coisa que parece agradável, mas afinal é uma pessoa irónica, que está a tramar qualquer coisa na sombra".
Que esteja provado e comprovado que as novelas necessitem, para a sua fórmula, de um vilão ou dois ou três, não discuto. Que a ideia seja fazer-me tremer e eu desate a rir, já sai um nadinha do propósito. Há um lado bom na história: temos dos actores e actrizes nacionais uma ideia de pessoas porreiraças e fofinhas, o que aliás os mesmos se esforçam por nos mostrar a cada semana, em todas as revistas, em todos os eventos, em todas as acções de solidariedade. Para além das novelas, estão em toda a parte, onde haja uma criança para abraçar, um croquete para depenicar, um carro para promover, uma figura pública maior que elas para cumprimentar em frente às câmaras fotográficas. Mas parece que as audiências acreditam na coisa. E é curioso como eu e as audiências, que pensamos o oposto, podemos dizer exactamente a mesma frase: os nossos vilões são maus.

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